a arte de Cristo

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

27 de Julho


PERGUNTAM-ME como fiquei louco?
Foi assim:
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Há muito tempo, muitíssimo,
muito antes de terem nascido os deuses,
despertei de uma profunda letargia
e reparei que todas as minhas máscaras
tinham sido roubadas.
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Sim, as sete máscaras
que para mim tinha fabricado e utilizado
nas minhas sete vidas.
-
Corri sem máscara
pelas ruas cheias de gente
gritando:
- Ladrões! Malditos ladrões!
-
Homens e mulheres riram-se de mim,
e muitos fecharam-se em casa,
cheios de medo.
-
Quando cheguei à praça do mercado,
um rapaz que estava de pé
no telhado da casa,
gritou apontando-me com o dedo:
- é um louco !
-
Ergui os olhos para o ver,
e foi então que o sol banhou
pela primeira vez
o meu rosto despido.
-
Pela primeira vez
o sol banhou o meu rosto despido
e a minha alma
encheu-se de amor ao sol,
e desde então
nunca mais quis usar máscara.
-
Depois gritei
como se estivesse em transe:
- Benditos! Benditos ladrões
que me roubaram as máscaras!
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Foi assim que me tornei louco.
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Encontrei muita liberdade
e segurança
na minha loucura;
a liberdade da solidão
e a segurança de nunca ser compreendido,
porque aqueles que nos compreendem
fazem de nós escravos.
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Mas não deixem
que me orgulhe demasiado
da minha segurança;
nem sequer o ladrão encarcerado
está livre de encontrar outro ladrão.
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in "O Louco", de Khalil Gibran
tradução de Manuel Simões
na imagem, o autor
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AVC

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