13 de Setembro

Supõe que encontraste uma pessoa que tens a responsabilidade e o privilégio de fazer feliz cá na terra – estás aqui para amá-la. Não há amor sem intimidade. No que toca a intimidade física, é algo só vosso, no sentido que é um lado teu que só a outra pessoa conhece, e vice-versa. É preciso expores-te, implica confiança – confiança para a vida. Nós, humanos, temos o espírito e o corpo. Podemos amar com o espírito, e amar com o corpo. O espírito é maior, pois enquanto as doenças do corpo muitas vezes não dependem de nós, as doenças (vícios) do espírito dependem da nossa vontade e querer para alcançarem uma cura. O espírito só morre na terra, se não o quisermos salvar. Se o espírito é maior que o corpo, então é o corpo que deve estar subordinado ao espírito, e não o contrário. O amor, para alcançar a sua plenitude, precisa que esta condição aconteça.

Se é o corpo quem muitas vezes exprime o amor, é o espírito que ama. Não posso querer unir-me à outra pessoa porque o meu corpo tem essa necessidade, mas sim porque a quero amar e fazê-la feliz, e por isso entrego-me a essa pessoa e dou-lhe também o meu corpo. Não digo que seja fácil esperar, mas se fosse fácil não seria amor a sério, mas um amor atrofiado, liderado por facilitismos, não habituado a abdicar. Para além dessa entrega ser uma coisa só vossa, nunca se sabe exactamente o que se está a dar. Como quando dás um presente, dado com todo o sentido e amor, na intenção de fazer o outro feliz. É um risco, expões-te e não pode estar ao serviço de uma paixão que um dia possa vir a acabar. Sabe-se o que se recebe mas não se sabe o que se está a dar, fazendo esta vulnerabilidade também parte deste presente que se dá como manifestação de amor.

O amor é um bem e um dom demasiado grande para se esgotar no casal, não morre ali. Daí virem os frutos, os filhos. Se estes são frutos do amor, como se justifica que haja filhos cujos pais não se amam, se a entrega que os origina deveria depender de uma confiança para a vida? Então, para um homem e uma mulher amarem os seus filhos, precisam de se amar enquanto casal, pois em equipa funcionarão melhor para dar o máximo. Tal como para se amarem enquanto casal, precisão de amar os seus filhos, pois são o resultado desse amor.

O sexo não é mau, muito pelo contrário. Por duas razões: une-nos à pessoa que amamos, e pode também gerar frutos nesse amor – uma criança. Afinal não são dois, são três: é um dom de Deus. Esta é a maior de todas as razões. Não me vou querer unir a alguém que não vou amar o resto da vida, não vou querer ter filhos de alguém com quem não queira passar o resto da vida (aí estaria a pensar em mim e não no meu filho, não estaria a ter um filho para o amar, mas para satisfazer os meus caprichos). Sobretudo, não vou usar este grande dom que Deus me deu para tornar o meu espírito escravo do meu corpo, e pelo caminho prejudicar outra pessoa. Não é no acto sexual que o amor se faz, o amor construiu-se antes, e o sexo é a maneira que o corpo tem para o expressar. Se é dificílimo esperar pelo casamento - altura em que nos tornamos casal aos olhos de Deus, e com Deus, e até que a morte nos separe – não estou a amar quando o faço antes da altura suposta, estou a amar quando mando as necessidades do meu corpo esperarem, por amor ao outro. Quer dizer, será que não é óbvio que esperar o tempo que for preciso é uma prova de amor enorme? Não será por o outro também querer que o vou estar a amar, antecipando a altura desta entrega - assim vou dar todos os chocolates aos meus filhos, não importando se lhe vai fazer mal, pois é o que ele quer. Amas o outro? Educa-o, e se para bem dele for necessário, contraria-o.

Só para concluir, se é uma coisa tão vossa e só vossa, que necessidade há, de estar a partilhar com outras pessoas? Por respeito à privacidade da pessoa que amas, não se justificam relatos e comentários, isso seria estar a despir o outro frente a pessoas que não fazem parte do casal.


B7