a arte de Cristo

quarta-feira, 18 de junho de 2008

10 de Junho


Uma pequena história:


"Era uma vez um sapo. Estava sentado no topo de uma montanha. Passou uma mosca perto dele. Foi a última vez que ela passou lá. Do sítio onde ele estava, via-se cavalos a correr ao fundo nas planícies, nuvens pequeninas e bastante dispersas ao longe, um charco de onde coachavam os seus irmãos sapos, e o sol a brilhar numa temperatura que não dava nem frio nem calor. Ele não reparou em nada disso. Também não reparou na maneira como a sua barriga crescia. Só reparou nas moscas. Passou por ele a sua irmã sapa. Também não lhe ligou. Comeu mais três moscas, num espaço de dois minutos. Era um sapo gordo, desajeitado, com cara de sapo, e estava no topo de uma montanha. Quem está no topo da montanha, quando a montanha é alta, tem tudo abaixo de si. De repente, depois de mais duas moscas, começou a sentir-se rabugento. Comeu mais moscas, a ver se passava. Ficou mais rabugento. Passou por si o velho sapão, seu amigo de infância. Até teria conversado com ele, se não estivesse tão ocupado a comer moscas. Comeu mais, ficou mais rabugento, comeu mais, e ficou mais rabugento. Não desistiu de comer, apesar de já estar um verdadeiro balofo e não ter fome nenhuma. Ficou no topo daquela montanha por três meses (se fosse lá para baixo seria obrigado a dividir as moscas com a sapalhada toda, e está-se mesmo a ver que teria que passar a comer menos moscas). Ao fim desses três meses, poderia ter apreciado mais de 90 vezes o pôr e o nascer do Sol, mas não os contemplou uma única vez. Estava demasiado preocupado consigo próprio e com as suas moscas.
Um dia apareceu um moscardo, que conseguia ser mais gordo do que ele. Este estava cansado de ver o sapo destruir toda a sua família. Assim, de tão grande e gordo que era, o grande insecto pegou no anfíbio, e voou dali para fora, sobrevoando o charco dos sapos. O sapo gordo tinha ficado tanto tempo preocupado em manter-se no alto da montanha, onde estava acima de todos, que já não se lembrava como era lindo o charco onde nasceu, o charco que os seus antepassados lhe deram, a troco de nada. Viu ao longe dois sapinhos crianças a brincarem. Sorriu com a cena, e deu-se conta que era a primeira vez em três meses que sorria. Era a primeira vez que não pensava em si. Estava-se a dar ao trabalho de observar alguma coisa bonita, sem ser uma mosca ou a sua barriga gorda. O moscardo subiu em altitude uns dez metros. Zumbia furiosamente, e o sapo percebeu que o outro o queria matar. Percebeu que a qualquer momento ia cair com todo o seu peso, ou na água, ou contra as rochas afiadas semi-submersas no meio do charco. Eram oito da noite, e o Sol desejava a todos um “até amanhã” que ele não sabia se iria ver alguma vez. Ainda assim, percebeu que esse pôr-do-sol era a coisa mais bonita que tinha visto na sua vida, e caiu-lhe uma lágrima. Caiu ele também. O moscardo tinha finalmente largado o sapo.
O embater das banhas contra o charco fez um grande barulho, e toda a comunidade dos sapos acudiu, tentando perceber o que se passava. Teria sobrevivido?"


Meu bom Jesus, não me deixes ser sapo, não nos deixes ser sapos. Se eu for egóista e só estiver constantemente preocupada em zelar pelo conforto dos meus vícios... só vou mesmo encontrar moscas dentro de mim. Meu bom Jesus, não nos deixes ser sapos!


MRB

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