a arte de Cristo

sábado, 6 de dezembro de 2008

6 de Dezembro

A primeira regra política na China é "respeitar a estação". Com isto, quer-se dizer que o governante deve respeitar a Natureza, e tomar decisões de acordo com os seus movimentos. No entanto, a ciência tem tido a constante tentação de evoluir no sentido contrário: o homem que pretende controlar a Natureza. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. A Natureza foi criada para nos servir, mas também contém em si importantes recados de amor de Deus para nós. Contemplar a Natureza é sempre uma lição. Não esqueçamos, porém, que o homem é, ele próprio, parte da Natureza.
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AVC

2 comentários:

Anónimo disse...

A China é um dos países que mais atrocidades tem feito à Natureza. Pelo menos, desde os tempos do Mao (inclusive) até aos dias de hoje. Portanto, se é a primeira regra, também é a primeira a ser não cumprida.

A visão da criação da Natureza para nos servir é um tanto ou quanto antropocentrica e é um mau ponto de partida para uma relação saudável com o nosso meio.

CristalizArte disse...

Caro Geribéu, muito obrigado pela leitura e e pelo comentário. Bem-vindo.

Respondendo, "respeitar a estação" é a grande regra política que orientou não só os imperadores como também os pequenos e grandes governantes chineses desde, pelo menos e que se saiba, a dinastia Han (+- entre 200 a.C. e 200 d.C.) até aos dias de hoje.

Reconheço que o maoismo, como as outras castas de comunismo, assenta num pensamento basicamente racionalista e por isso tendencialmente ateu. Como tal, nos primeiros anos após a confirmação do poder de Mao em 1945, houve tentativas no sentido de estas e outras crenças serem sacrificadas no altar do "progresso". Todas estas crenças eram, para os comunistas, superstições que deviam ser "aplanadas".

No entanto, estas tentativas tiveram frustrantes resultados para o governo, que rapidamente abandonou tais intentos. Se havia regras indissociáveis do ADN da cultura chinesa, esta era uma delas. A prova disso é que resistiu ao comunismo e à maoista "revolução cultural".

Concretizando um pouco mais, "respeitar a estação" na China é essencialmente respeitar os movimentos da Natureza e agir em conformidade. Para dar um exemplo, ainda hoje se pode assistir a isso na política judicial:

A Primavera é uma estação liberal, onde o tempo se torna mais agradável, sendo uma altura boa para se fazer poesia. Como vêm as flores que depois dão fruto, não é definitivamente altura de podar as árvores. Ora crêem os chineses - e agora vem a parte que um ocidental acha "engraçada" - que tal como não se devem cortar os ramos das árvores, também não se deve cortar os dedos dos prisioneiros. Mais, como esta é uma estação mais liberal em termos de clima, também é uma boa altura para soltar os presos e ser-se mais ameno nas penas que aos criminosos se aplicam.

Ao contrário, o Outono já começa a ser uma estação mais severa e rigorosa no clima, na flora, na fauna. É a altura de limpar as prisões, porque elas vão-se encher até ao fim do inverno. As penas aplicadas são mais rigorosas também.

É isto que quero dizer com "respeitar a estação". Ainda hoje se pode ver a influência que tal regra tem nas decisões políticas (em qualquer área da Política) na China, apesar de algum racionalismo que o Partido Comunista tem tentado introduzir.

Coisa diferente, e concordo consigo, é a poluição ambiental que a China não tem evitado devidamente. Mas "respeitar a estação" não é tanto respeitar a Natureza em abstracto, mas essencialmente respeitar os seus movimentos.

Apesar de tudo, a China está, como qualquer outro país, cheia de contradições e teorias em confronto. Penso no entanto que lá esta corrente naturalista é ainda, apesar de tudo, a dominante.

Quanto ao segundo parágrafo, concordo apenas em parte com o Geribéu, mas concerteza que respeito o seu ponto de vista. Concordo apenas na medida em que a Natureza não nos serve como o escravo serve o seu senhor. Nós não somos donos da Natureza, somos quanto muito seus administradores. Usufruimos do que a Natureza nos dá, mas não temos autoridade (até porque O autor é outro) para fazermos dela tudo o que queremos. Há que olhar para o futuro e cuidar que a Natureza possa igualmente """servir""" as gerações que hão-de vir. Temos muito a aprender acerca da nossa vida e de Deus a partir da Natureza. Agora, coisa diferente é endeusar a Natureza, ou dela ficarmos escravos ou reféns (como no limite os governantes chineses ficam ao cumprir a regra de respeitar a estação). Há um meio termo a procurar, e é nesse meio termo que quanto a mim encontraremos a "relação saudável com o nosso meio" que o Geribéu tão pertinentemente refere.

As minhas desculpas por tão grande (e talvez cansativa para quem a lê) resposta. Agradeço uma vez mais o comentário,

AVC