a arte de Cristo

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

7 de Janeiro

Em conversa com uma estudante de medicina, descobri que o equilíbrio do corpo humano está nos ouvidos, no cerebelo e numa qualquer outra parte do cérebro que de momento não me lembro do nome. No entanto, a minha preocupação maior não é a de definir com exactidão onde se encontra o equilíbrio do corpo, deixo isso para os entendidos desta área. Antes quero falar de algo onde qualquer pessoa pode e deve discorrer - a alma -, e assim, talvez o meu tiro acerte em algum ponto interessante.
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Tenho para mim que, se o equilíbrio do corpo está nas partes que acima vimos, o equilíbrio da alma encontra-se na práctica da humildade. A humildade é um valor e uma práctica de vida que nos traz como consequência um acertado posicionamento do nosso ser na terra. Como é? Vou tentar descomplicar.
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Humildade, humanidade, humilhação, humano, homem... todas estas são palavras que derivam de húmus - terra. Um homem, quando pensa que é maior do que aquilo que realmente é, fica orgulhoso e passa a agir como se fosse superior aos outros. Só há um caminho para voltar à "real", a humilhação. Também aquele que se substima, deve voltar à realidade e ser honesto consigo próprio.
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A humilhação é por nós entendida como algo negativo, como que um desumano acto de vergar o próximo à tristeza, à vergonha, à desonra. No entanto, se aquele que se desonra for humilhado, então te digo que nesse momento ele volta a ser aquilo que é. Ele sempre foi o que foi, mas antes não se sentia nem era sentido como uma pessoa realmente humana e digna. Agora é-o. Por outras palavras, a humildade tanto nos puxa para baixo como nos puxa para cima. A humildade puxa-nos para o sítio certo, para onde pertencemos, chama-nos à realidade daquilo que somos.
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Sabes onde os aviões são mais seguros? Em terra. A humilhação, ou o exercício da humildade, é assim um exercício de aterrar - chegar à terra.
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Para equilibrarmos a nossa alma, devemos ajustar constantemente aquilo que pensamos que somos àquilo que realmente valemos. Ser humilde é fazer uma leitura persistente do nosso estado de espírito e agir em conformidade, de uma forma coerente. Ser humilde não é ficarmo-nos pelo "coitadinho de mim que sou tão frágil", é outrossim reconhecermos as nossas fragilidades por forma a torná-las pontos fortes. Ser humilde é ter um grande conhecimento de si, e ser exigente, querer ser melhor.
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A grande escola de humildade é a oração. Se fosse uma escola do ensino português, estaria em 1º lugar nos rankings, mesmo sendo o presente Ministério da Educação anti-religioso. A oração permite-nos fazer uma introspecção e apresentar a nossa autenticidade ao Pai, que nos conhece tão bem que sabe quantos cabelos temos na cabeça. É apresentarmos a nossa alma a Deus num estado de radical nudez*, sem que nada a tape. A oração e a confissão permitem-nos aprender com o Grande Mestre da Humildade. Se até Deus desceu à terra - se humilhou -, e se dispôs a sofrer na pele todas as nossas ofensas, quem somos nós para não sermos humildes? Acharemos porventura que o aprendiz deve ser maior que o Mestre?
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Se queremos seguir Jesus, Deus humilhado e grandioso, teremos também de ser humildes. A humildade é sabermos que estamos com os pés na terra e com os olhos no Céu. A humildade conduz-nos ao Céu.
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* Platão usa uma imagem parecida no último discurso de Sócrates no "Górgias", em boa hora citada pelo Papa Bento XVI na sua última encíclica, páginas 60 e 61. Vale a pena ler ambos.
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AVC

2 comentários:

joaquim disse...

Mt 18, 4 «Quem, pois, se fizer humilde como este menino será o maior no Reino do Céu.»

Está tudo dito nesta Palavra, nada se pode acrescentar.

Lc 1, 48 «Porque pôs os olhos na humildade da sua serva. De hoje em diante, me chamarão bem-aventurada todas as gerações.»

A humildade leva à bem-aventurança!

António, é bom "ver-te" novamente por aqui em tão boa companhia.

Abraço amigo em Cristo

CristalizArte disse...

Obrigado Joaquim pela tua visita. Tinha saudades de conversar contigo. Obrigado pelo teu contributo, pois é realmente no Evangelho onde estão as palavras de vida eterna, de água viva que não se esgota. Um abraço,

AVC